Na última semana temos
lido e visto muitas demonstrações de indignação a respeito do uso de animais em
pesquisas. Pois bem, visto que estamos neste nível de discussão posso crer que
já resolvemos os problemas mais graves que nos afligem, como a miséria, a
sede, a fome, as vítimas da violência e não há mais ninguém morando nas ruas de
nossas cidades. Ou será que não?
Não entrarei no debate
acerca dos maus tratos de que o Instituto Royal supostamente praticava, pois
não tenho condição de fazer análise a este respeito e este nem é o assunto
deste texto. Mas irei me prender a uma inversão latente de valores que vivemos.
Imaginemos a seguinte situação.
Ao ir trabalhar um dia pela manhã você se depara com a seguinte cena, dois
seres deitados e tremendo de frio sob alguns papelões dormem no canto de uma
calçada. Um é um cãozinho que aparentemente está com frio e fome e o outro é
uma criança nas mesmas condições. Qual delas teriam mais chances de lhe comover
a ponto de você levar para morar com você? Se a resposta é o cãozinho, era
exatamente o que eu temia.
Nossa sociedade vive
uma inversão moral assustadora, onde animais possuem ferozes defensores, mesmo
que não sejam comprovados maus tratos, que fariam de tudo para defender a vida
de um panda, de uma chinchila ou um poodle e ao mesmo tempo ataca de forma
igualmente feroz quem ouse a defender a vida de uma crianças, que ousem a se
posicionar contrário ao crime do aborto.
Muitos poderão dizer
que não estou nem aí para os animais, mas o caso não é este, pois, aliás, como
eu gosto de animais, só não coloco a carroça na frente dos bois como dizem os
antigos. Mas é preciso que tenhamos prioridades, que saibamos o que é
primordial para nossa sociedade, o que é mais urgente. “Salvar” alguns beegles
de supostos maus tratos ou procurar de forma efetiva e definitiva resolver a
vergonhosa situação de nossas cidades onde crianças e mais crianças são
tragadas para o mundo do crack, da prostituição e do crime?
O que de fato nos fará
ter uma vida melhor? Dignamente qual é a prioridade? Como seria bom ver tamanha
comoção por aqueles que passam sede e fome no nordeste, se tivéssemos a mesma
indignação que muitos demonstraram com o caso dos beegles para aqueles que são
esquecidos em nossa sociedade muitas das mazelas humanas seriam diminuídas. Mas
talvez eu esteja exagerando, talvez eu seja só um chato que não me comovo com
os maus tratos de animais.
O fato é que vivemos em
uma perigosa situação, onde animais passam a valer o mesmo, e perigosamente,
até mais que humanos. Onde salvar alguns cãezinhos é mais urgente que salvar
crianças de nossas ruas ou de serem mortas no ventre de suas mães. A questão é
que enquanto eu me comover mais com uma criança que com um animal me sinto
vivo, sinto que não perdi o real valor das coisas.
E você, o que te comove
mais?
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