Não se fala em outra coisa nos últimos meses. A crise hídrica
que se abateu sobre várias regiões do país, tomou conta das manchetes e dos
jornais país afora, claro junto com os escândalos da Petrobras, mas o papo aqui
é a falta d’água. A questão é que quem agora todas as campanhas de
conscientização e medidas jogam no colo dos cidadãos a responsabilidade pela
manutenção dos níveis dos reservatórios, mas isso é justo? Até onde o cidadão
comum é responsável por esta tal crise?
Neste momento de dificuldades hídricas, que a falta de água
ameaça comprometer o abastecimento e a produção de energia, não falta quem
acuse o desperdício e o mau uso da água como os principais culpados por esta
situação. Imploram consciência da população e prezam pelo uso responsável da
água, dentre estes não faltam políticos querendo se fixar como amigo do
planeta.
É claro que ter consciência e responsabilidade para o uso da
água é importante e deve ser levado a risca por todos, considero um absurdo e
até mesmo um abuso até mesmo em períodos de fartura de água que seu uso seja
feito de forma irresponsável como lavar o quintal 2 vezes ao dia, lavar o
telhado todo mês e outras formas estúpidas de usar a água. Mas será que somente
estes péssimos usuários seriam capazes de secar o Cantareira? Se os relatórios
das distribuidoras apontam que a população vem diminuindo o consumo da água
para ajudar só resta uma questão, quem afinal é o vilão da história?
O discurso que temos visto nos últimos dias e meses é de que
cada um diminua seu tempo de banho, feche a torneira enquanto se ensaboa ou
enquanto escova os dentes, reaproveite a água da máquina de lavar, entre outras
tantas idéias. São realmente ideias fantásticas e que devem ser seguidas por
cada um de nós em respeito a toda a sociedade, mas me desculpem não creio que
estas pequenas medidas salvem nossas represas e reservatórios. No máximo
acredito que irá ajudar a diminuir o consumo doméstico e consequentemente a
conta de água.
Estes apelos para economizar água para salvar os
reservatórios me faz lembrar os conselhos de alguns magos da economia pessoal
que aconselham que para ficar rico se deve cortar o cafezinho após o almoço ou
deixar de comer a pipoca no fim de semana e usar este dinheiro para poupar.
Sabemos que estas medidas irão ajudar a ter uma graninha em alguns meses, mas
não vai deixar ninguém rico, e da mesma forma fechar a torneira enquanto escova
os dentes não vai salvar o Cantareira que já está no volume morto.
Permitam-me dizer que o problema aqui é bem mais grave e
passa principalmente pelas urnas e não pelas represas ou nuvens. O problema
pela falta de água e de energia é conseguencia do descaso dos últimos governos
com os consequentes alertas técnicos dos setores que alertavam para a
necessidade de um aumento de capacidade de armazenamento de água nos
reservatórios e a capacidade de distribuição e geração de energia.
Claro que a estiagem que passamos é gravíssima e de forma
nenhuma quero que neste texto pareça que nego isso, mas o fato é que se os
governos de Lula tivessem ouvido os seguidos relatórios pedindo um aumento na
capacidade dos reservatórios e se Dilma tivesse ouvido os clamores do setor
elétrico para não baixar as tarifas na marra provocando um aumento no consumo
de energia quando já se começava a anunciar a estiagem e o nível de alguns
reservatórios já preocupava.
Aliado aos descasos do governo federal estão os descasos dos
governos estaduais que mantém boa parte do sistema de águas e esgoto do país
sucateados. Um relatório publicado na revista “Em discussão” em dezembro de
2014 pela Secretaria de Comunicação do Senado e que pode ser acessado clicando aqui mostra que a imensa maioria da água que é desperdiçada no país se perde
antes de chegar aos hidrômetros das casas. O estudo aponta que cerca de 40% da
água tratada se perde ainda na rede, fruto de perdas por vazamentos e até mesmo
furtos, os famosos gatos.
Logo se vê que antes que o consumidor possa fazer alguma
coisa, cerca de 40% da água já se perdeu antes de chegar em sua torneira. Isso
nos leva de volta ao início deste texto, após tomar conhecimentos de dados como
este devemos reconsiderar onde estão verdadeiramente os culpados por esta crise
de abastecimento de água no país.
Aqui também deixo um pequeno puxão de orelha a todos nós
brasileiros que em geral somos muito complacentes com situações que deveríamos
considerar inaceitáveis. Em geral temos a mania de não nos doer quando vemos um
vazamento de água na rede ou não reclamar quando não somos atingidos
diretamente. O lançamento do relatório que mostra uma perda de cerca de 40% de
água ainda na rede deveria provocar uma comoção aguda em todo o país, ainda
mais neste momento de crise, mas foi apenas mais uma notícia cotidiana sem
maiores consequências.
Estamos sendo muito complacentes com erros gravíssimos deste
último governo que insiste em mentir dizendo que não há riscos de falta de água
ou energia elétrica quando deveria abrir o jogo para toda a nação, assumir os
erros cometidos e iniciar medidas concretas para que ao invés de termos
racionamentos tenhamos uma interrupção no abastecimento de água e energia.
Sinceramente não sei mais o que estamos esperando para cobrar do governo a
verdade, uma explicação plausível e medidas imediatas. Ou se busca ações agora
ou esperamos as torneiras secarem e aí não sei se irá adiantar muito reclamar,
o pior já estará feito.
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